domingo, 5 de agosto de 2007

Queria encontrar-te no meio da multidão. Que me assaltasses os olhos e me levasses contigo.
Saio à rua. A chuva mergulha em queda livre directa às pedras da calçada onde se desfaz e dissolve em poças que já foram gotas. Estamos em Julho e o calor derrete-me o corpo enquanto a chuva não penetra pelas minhas roupas. As pessoas vivem à pressa, do autocarro para o metro, “próxima estação?”
Neste movimento contínuo distingo-te num cardume de gente agitada. Trazes os cabelos soltos – pouco usual em ti, o que é que mudou? – que formam longos canudos negros pintados pela água. Aproximo-me. Não te quero dizer nada, não, não agora. Agora só quero ficar abraçado a ti, fechar os olhos, sentir o teu corpo – as saudades que tenho de sentir a tua respiração no meu pescoço enquanto nos abraçamos – ficar, só ficar… O semáforo caiu verde, à medida que te aproximas… merda! Eu ia jurar. Ia jurar que tu, o teu andar, o balanço das tuas ancas, o som da pulseira que trazes no tornozelo e anuncia a tua passagem. Era a tua pele, morena com um cheiro que ainda não identifico mas que aprendi como teu. Tu, recém chegada de mapa na mão lendo as palavras e pronunciando-as de modo errado, como se cantasses em lugar de falares. Eras tu, que passados meses te sentias em casa numa cidade feita à tua medida, que nesta altura já percebias tudo, que me percebeste à deriva nos dias para te encontrar. Tu, quando já não precisavas de mapas, que depois de te ter encontrado me deste um beijo e disseste “Adeus”… Só podias ser tu, que me trouxeste de volta à vida que me fizeste sentir o que desde há muito…Porra! Porra! Porra! Nesses últimos dias contava as horas que tinha para não te deixar partir. Hoje conto-as, já passaram 129 horas e 2 minutos, sem saber se alguma vez vais regressar, ainda que por uns dias. Penso no que poderia ter feito diferente mas, do que me ocorre, nada te teria feito ficar e desistir de uma vida que já tinhas. Se ao menos tivesses perdido o avião, talvez tu nesta chuva quente que se derrete no corpo, talvez pudesse ser que fosses tu.

16/07/07

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