domingo, 21 de dezembro de 2008

A Silent Film -You Will Leave a Mark

"A silent film" é das últimas bandas que conheci e que me parece que vão crescer muito. Estou completamente viciado nesta música mas ainda não conheço o álbum. Oiçam e digam de vossa justiça!

Ryan Adams and the Cardinals - Stop

Este ano foi para mim um ano de redescoberta do Ryan Adams e como tal, não podia deixar de assinalá-lo com mais uma múcia dele no meu blog. Fui buscar alguns dos seus discos antigos e deu-me grande prazer descobrir coisas tão boas como "Heartbreaker", por isso partilho-o convosco. Apesar de Cardinology, o seu álbum deste ano, não ser o seu melhor disco, tem momentos muito bons como este "Stop" o "fix it" "go easy" etc. Tenho grande simpatia por este canta-autor e com tal vou continuar a dedicar-lhe posts neste meu espaço.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A "mental background noise"

Fitter Happier
Fitter, happier, more productive,
comfortable,
not drinking too much,
regular exercise at the gym(3 days a week),
getting on better with your associate employee contemporaries,
at ease,
eating well (no more microwave dinners and saturated fats),
a patient better driver,a safer car
(baby smiling in back seat),
sleeping well(no bad dreams), no paranoia,
careful to all animals(never washing spiders down the plughole),
keep in contact with old friends
(enjoy a drink now and then),
will frequently check credit at (moral) bank (hole in the wall),
favors for favors,
fond but not in love,
charity standing orders,
on Sundays ring road supermarket
(no killing moths or putting boiling water on the ants),
car wash (also on Sundays),
no longer afraid of the dark or midday shadows
nothing so ridiculously teenage and desperate,
nothing so childish - at a better pace,
slower and more calculated,
no chance of escape,
now self-employed,
concerned (but powerless),
an empowered and informed member of society
(pragmatism not idealism),
will not cry in public,
less chance of illness,
tires that grip in the wet
(shot of baby strapped in back seat),
a good memory,
still cries at a good film, still kisses with saliva,
no longer empty and frantic like a cat tied to a stick,
that's driven into frozen winter shit
(the ability to laugh at weakness),
calm, fitter,
healthier and more productive
a pig in a cage on antibiotics

"Ok Computer" Radiohead

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Taxi to the Dark Side

Segundo a Convenção de Genebra: "A dignidade humana não pode ser violada" ao que sr. Bush diz "isto é muito vago". Sim, de facto é difícil compreender que, a violação sexual; os espancamentos a pessoas indefesas que não oferecem resitência; privação de sono durante dias; sessões de humilhação; desrespeito cultural e horas a fio de outras formas de tortura, é de facto complicado perceber que isto constitua uma violação à dignidade humana...
Este documentário ganhou vários prémios e retrata a democracia americana aplicada. Não percam.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Late of The Pier - Focker

Conheci há cerca de uma semana e fiquei fã. Há quem os compare muito com os Klaxons, mas os Late of the Pier vão mais além.
Das músicas que ouvi do primeiro álbum, a sair este ano, parecem de uma qualidade superior (apesar de terem vinte e poucos anos)dada a grande diversidade de influências a fazer-se notar que vão desde o rock mais progressivo ao electro. São dançáveis, cantáveis e bastante gostáveis. A ter em atenção para a frente.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Leituras (8)

«Gatsby acreditava na luzinha verde, no futuro orgástico que ano após ano recua diante de nós. Se a dado momento nos escapou, não importa - amanhã correremos mais depressa, estenderemos até mais longe os braços... E um belo dia...
Assim vamos remando, barcos a navegar contra a correnteza, incessantemente levados de volta ao passado.»

F. Scott Fitzgerald in «O grande Gatsby»

sábado, 16 de agosto de 2008

Goldfrapp - Caravan Girl

Estou viciado nesta música, é tão pop tão "naive" e ainda assim tão boa... cheira a Verão e este video ajuda... uma liberdade adolescente. Não sei se este é o video oficial, já vi outro em a própria da Alison aparece (e que bem que ela aparece), mas gosto deste. Bom sol...

Nostalgia - Faith No More - A Small Victory

Esta foi a primeira música que ouvi, neste mesmo formato, dos Faith no More e uma das que me despertou para o mundo da música. No ano de lançamento deste álbum (1992), esta "master-piece" que é o Angel Dust, estiveram em Portugal a abrir os Guns n' Roses (banda da qual eu era completamente fã lol). Para grande pena minha não tive permissão para ir a este concerto, estou farto de dizer à minha mãe que este é um dos traumas da minha vida, e então fiquei em casa a pensar no quão injusto é o mundo... passados uns anos lá se fez alguma justiça e lá tive oportunidade de ver os FNM por duas vezes, mesmo assim soube a pouco porque os concertos deles eram sempre brutais... com o passar do tempo fui ganhando "permissão" a vida é feita de "pequenas vitórias" e nunca mais quis saber dos GnR. Como recentemente revisitei este disco, deixo aqui a presença dos inesquecíveis e marcantes Faith No More.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Leituras (7)

"que no hay sometimiento más eficaz ni más duradero que el que se edifica sobre lo que es fingido, o aún es más, sobre lo que nunca ha existido."

"Sólo hay una cosa mas solitaria que morirse sin que se entere nadie, y es morirse sin enterarse uno mismo de lo que está ocurriendo, sin que el que muere se entere de su propria disolución y término..."

Javier Marías in «El hombre sentimental»

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Solidário :)

Esta é a segunda edição de uma parceria, entre a FNAC e a Fundação AMI, que procura combater a Infoexclusão através da construcção de Infotecas nos Centros Porta Amiga. Estas estruturas têm possibilitado, àqueles que se encontram em situação de maior precariedade socio-económica, a aprendizagem e contacto com as novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Assim, a compra deste cd duplo, pela simbólica quantia de 4 euros, ajuda na democratização do acesso aos meios de informação e por outro lado promove os novos e emergentes talentos da música portuguesa, que pelos vistos são alguns. O meu destaque vai para "Os pontos negros" que acho incrível ainda não terem um álbum (são mesmo bons!). Ao longo de trinta músicas encontram-se ainda outras bandas e compositores interessantes como " Vicente Palma", "Os Tornados", "Projecto Fuga", "Crista", "LAma".
Um bom disco por uma boa causa!

Leonard Cohen - Tower of Song 19-07-2008

Sábado tive a oportunidade de assistir a um dos melhores concertos que já vi, que pensando bem já são alguns. Foi uma noite extasiante pela figura, pela voz, pelos músicos, pela música, pelo humor, pela entrega ao espectáculo(3 horas não é para todos)e pelo silêncio... Não me lembro de estar num concerto ao ar livre em que ouvisse, por entre os espaços da música, um silêncio de respiração. Foi um concerto arrebatador, desses que vou recordar durante os anos que a vida me permitir... Aqui fica um momento que exemplifica o que aconteceu essa noite. Se não se gastasse tanto dinheiro em festivais talvez houvessem/assistissem a mais concertos a sério.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Radiohead - House of Cards

Não é novidade que os Radiohead são a minha banda preferida desde há alguns anos. O "In Rainbows" está para mim entre os três melhores discos deles (ou quatro vá) e elegi o "House of cards" como a melhor música de 2007. Dado tudo isto, mal vi este video nos favoritos do elmau fui logo «surripiá-lo» e tinha que o pôr aqui.É lindo, há génio em tudo o que estes rapazes Tocam.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

"Joy Division" - Trailer

Foi ontem a ante-estreia e aconselho vivamente a todos, aos que não conhecem e aos que conhecem os Joy Division.
Vão ver, depois falamos...

Profissão Errada

Conheci a S. numa típica noite de copos e nunca mais a vi. A noite estava boa eram dias quentes de um Inverno, gosto de quando o Inverno é quente, desocupado e sem dinheiro daí não sair há tanto tempo. Essa noite o jantar foi servido em casa e deglutido entre palavras saudosas de amigos que eram mastigadas a gosto em crescendo ensopadas num vinho tinto que alguém eloquentemente escolhera. A conversa estendeu-se algumas cervejas mais pelos bares do Bairro Alto e descemos até ao buraco. À chegada o vinho já me dançava – de outro modo nem uma palavra – e os cigarros seguiam-se uns aos outros entre os dedos numa nuvem de incêndio em que conheci S.
- Tens um cigarro?
e eu claro que tinha cigarros e fósforos e isqueiro, se ela preferisse, e muitas palavras para lhe dar, uma vez que tinha usado vinho para as empurrar ao jantar e as tinha prontas a sair cá para fora, e uma vontade incrível de lhe trincar os lábios que me preenchiam o olhar desfocado, ou parcialmente focado, e de lhe beijar os olhos negros onde me perdia em elipses que me traziam invariavelmente ao mesmo lugar àquela pista de acasalamento. E dançámos, ou melhor o meu vinho dançou com ela uma vez que eu não sei dançar, e ela aparentemente conhecia-me de um teatro onde eu não trabalhava e ela a insistir
- Não és assistente de produção no Teatro Nacional?
e eu a querer ser o que ela quisesse que eu fosse a anular-me e a querer apenas concordar e que ela concordasse em dar-me o número de telefone que era para lhe ligar mais tarde durante a semana quando o vinho tivesse ido embora e os meus olhos pudessem já focar a pele negra-dourada e o sorriso branco que lhe irrompia dos lábios que eu queria morder e a perfeição do movimento dançante do seu corpo e os músculos desenhados dos braços que eu queria à minha volta, mas apenas consegui dizer,
- Não. Vendo telemóveis
sem conseguir que ela me desse o seu número para falar com ela através da minha mão, e a ficar desesperançado com aquela conversa do trabalho e do teatro, eu que entrei num teatro uma ou duas vezes uma por ter feito confusão com a porta do metro outra para ver um tipo que conta piadas, gostei de ir teatro foi giro ri-me à brava com aquele actor que pelos vistos, e apesar de ser actriz, ela não conhecia. Às vezes impressiona-me a falta de cultura que alguns artistas têm como se só tivessem espaço para o seu próprio trabalho, e eu não conhecia o dela mas eu não sou artista, falou-me em duas peças que tinha feito recentemente o «não sei quê improviso» do Pirandello, decorei porque tem um nome fixe o que eu me ri Pirandello, que era basicamente o que eu estava a fazer há horas a improvisar e outra de um estrangeiro com um nome esquisito. Eu tentei dançar mas tropecei-lhe num pé e acordei na rua vazia a apanhar ar ao lado do vinho e do jantar.
Conheci-a nessa noite e nunca mais a vi. Bem falava para a mão mas do outro lado nunca S. ainda lhe tentei vender um dos meus telemóveis podia não ter um e ser essa a razão de não me dar o seu número, e eu faria uma atenção especial no preço por ser para ela, mas recusou. Procurei em cartazes de vários teatros da cidade mas S. não vinha nas primeiras páginas como o Humberto Graça, aquele actor que vi no teatro e faz rir. O Pirandello, que fartote, deve ter-se pirado porque o seu nome também não figurava em parte alguma se calhar piraram-se juntos. E eu acho que percebo que não te tenhas pirado comigo porque
- Não. Vendo telemóveis
e não assistente de produção como tu achavas e talvez te desse algum jeito mas se me tivesses dado o teu número eu agora podia chamar-te a dizer que deixei os telemóveis e trabalho na bilheteira e que te ofereço todos os bilhetes que queiras e podes trazer o Pirandello se quiseres porque eu quero estar contigo como tu és.
Todas as noites a procuro entre o público e o palco, mas nunca mais a vi.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Pink Floyd - Live in Pompeii

Deixo aqui o video (três partes) de uma música que, ultimamente, me tem invadido a cabeça.
Na verdade, no original, são apenas duas partes mas estas três juntas parecem-me ter sentido (youtube nem sempre é de fiar). De qualquer forma vou averiguar a versão correcta. Mas ouçam este momento fantástico dos Pink Floyd ao vivo para "ninguém", tirem vinte minutinhos do vosso tempo e deixem-se ir...

Pink Floyd, Echoes(part 1)

Pink Floyd - Echoes (part 2)

Pink Floyd - Echoes (part 3 )

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Leituras (6)

"...o certo e o errado são apenas modos diferentes de entender a nossa relação com os outros, não a que temos com nós próprios, nessa não há que fiar, perdoem-me a prelecção moralística, é que vocês não sabem, não o podem saber, o que é ter olhos num mundo de cegos, não sou rainha, não, sou simplesmente a que nasceu para ver o horror, vocês sentem-no, eu sinto-o e vejo-o, e agora ponto final na dissertação..."

" Só Deus nos vê, disse a mulher do primeiro cego, que, apesar dos desenganos e das contrariedades, mantém firme a crença de que Deus não é cego, ao que a mulher do médico respondeu, Nem mesmo ele, o céu está tapado..."

José Saramago in «Ensaio sobre a Cegueira»

És a tristeza que choro todos os dias quando acordo.

terça-feira, 13 de maio de 2008

The National - Apartment Story

Há muito tempo que queria pôr os National no blog, aproveito a ressaca do concerto como desculpa. Que concerto! Aqui ficam duas, são todas tão boas que é difícil escolher.

Daughters of the SoHo Riots by THE NATIONAL

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Lykke Li "I'm good, i'm gone"

Da suécia para o mundo, não só com muita pinta mas com um belo disco. Este video tem um ar um pouco artesanal, bem como o som. Muito bom!

domingo, 20 de abril de 2008

Leituras (5)

«Dançavas, junto a mim, tecia-se já esse laço que me une agora à tua agonia; já, contra minha vontade, eu tinha entrado na tua vida para que um dia ficasse, ainda contra minha vontade, só às portas da tua morte.»

«- O preço da revolução nunca é caro de mais. – Paul olhou-me com desdém. – Vocês nunca chegarão a parte nenhuma, porque não querem pagar esse preço.
- É fácil pagar com o sangue dos outros.
- O sangue dos outros e o nosso é o mesmo sangue – disse Paul.»

in «O sangue dos outros» Simone de Beauvoir

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ryan Adams and The Cardinals -

Já não dava atenção ao Ryan Adams há algum tempo. Foi assim que decidi ouvir o disco do ano passado "Easy Tiger" e que me levou a outros discos dele. Este disco assinala um regresso após "uma fase difícil da vida" do rapaz (desintoxicação de álcool, segundo ouvi dizer) o que se observa logo no título (um sugestivo "vai com calma") e nas letras. Às vezes é necessário "ir à gaveta". Fica aqui esta música da qual gostei bastante.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Na vida e na morte

Olho-o com saudade até ao infinito, saudade infinita, à espera sempre de te ver chegar a qualquer momento trazido numa qualquer corrente, eu acorrentada presa desde a tua partida. Andas perdido há que anos, eu por cá ando igual, tu que nunca te perdias e sabias sempre onde estavas e qual a direcção certa a tomar que todos os dias ainda ao longe me avistavas no cimo do monte e erguias já triunfoso o troféu do dia a acenares-me beijos que eu recebia de peito aberto e aliviado porque te via e sabia que estarias em casa dentro de pouco tempo, a visão de ti era a certeza de que o dia que tanto temia não houvera ainda chegado. Chegou. Eu à deriva em casa a falar aos móveis e eles num silêncio de ignorância com as batatas ao lume a prevenir um atraso que se alongava eternamente a morder o relógio e a engolir o tempo. Subo o monte donde sempre te avisto e somente cinzento tudo cinzento daquela cor que ameaça infinito cinzento socada pelas rajadas molhadas do vento um murro no estômago que não quero receber. Desço à praia atordoada pela irregularidade do caminho as pedras a pisarem-me toda o corpo a gelar por debaixo do xaile preto que me ofereceste no dia em que casámos ensopado ensopada o peso a aumentar o caminho turvo e incerto que continua na areia tudo cinzento a praia deserta sob um cinzento que ameaça o mundo deserto. Olho-o até ao infinito ajoelho-me perante o trovão que rebenta a meus pés pergunto-lhe por ti e responde-me numa voz de raiva, eu com tanta raiva com tanto ódio, a engolir-me o coração a esmagar-me a afogar-me os olhos. Chegou. O mundo deserto até hoje sem uma luz de ti eu perdida sem saber a que horas vens para almoçar. Subo o monte, em dias solarengos quase a impressão de te ver ao longe a acenares-me beijos as gaivotas em voo picado em direcção ao espelho azul casais de velhos trazem a merenda e olham o horizonte, esperarão eles alguém perdido há muitas rugas atrás? são simpáticos oferecem-me vinho e pasteis de bacalhau, embrulho um num guardanapo e guardo-o para ti no bolso do meu avental quando o céu se incendeia partem fico sozinha com os olhos a naufragarem-me o mundo deserto levanta-se um friozinho que me arrepia por dentro recolho-me e lembro-me das batatas ao lume deixo-as dentro da panela para não arrefecerem come quando chegares deves vir com fome se por acaso me encontrares a dormir acorda-me que eu faço-te companhia.


contextualizacao #08 ver www.luiselmau.blogspot.com

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Queda Infinita

Acabo de chegar a casa. O cão não vem receber-me à porta, não deve estar, talvez tenha ido às cadelas. Dou dois passos e entro. Fecho a porta e o barulho apaga-se. Finalmente, o silêncio dos carros da rua das recomendações zelosas de uma mãe para o filho
- Miguel não atravesses a estrada que pode vir algum carro
num tom estridente e insuportável, calo-os a todos com o trinco. Fico só, estou só, sozinho à demasiado tempo com este ruído permanente que se instalou não sei quando dentro de mim. Não tenho descanso não consigo descontrair. Sinto que estou à beira, ou melhor, em queda e este som é o meu corpo a rasgar o ar em direcção ao fundo que não chega. Fecho os olhos e o vento acaricia-me a fronte como duas mãos que me recebem, a queda é infinita. Se ao menos o cão em casa, atirava-lhe a bola umas quantas vezes até me fartar. Apresso-me a pegar num cd ao acaso e ponho-o a tocar. Não me apetece, não quero ouvir nada. Até a música é insuportável. As notas soam-me dissonantes são egodistónicas, hoje não dá mesmo. Sinto os pulmões cheios, tão cheios que me sufocam. Ligo o pc na esperança de algum e-mail animador, nada somente
precisa-se médico para as Caldas-da-Rainha, engenheiros para Angola, canalizadores todas as regiões do país bem remunerado
há uma mensagem do Carlos que quer partilhar comigo um vídeo do youtube
desculpa amigo hoje não estou com cabeça
apago-a e fecho todas as janelas rapidamente, a janela do meu quarto fechada à que tempos o meu quarto um cheiro a mofo incrível se a abro
- Miguel não atravesses a estrada que pode vir algum carro
num tom estridente e insuportável e também os carros com buzinas, de modo que prefiro o cheiro a mofo húmido e sufocante a criar bolor. Abro um novo documento no word. À minha frente uma página em branco, só um traço preto que vai marcando os segundos sem os contar, a rir-se para mim como quem diz
- Então, nada? Nem uma palavra?
e eu quieto calado parado mudo a ouvir o meu corpo imóvel a cortar o vento, sozinho à demasiado tempo sem ninguém a zelar
- Miguel cuidado com os carros
de maneira que eu atropelado a toda a hora, a sentir o vento na cara. Aborreço-me do branco e do preto que me judiam e fecho também esta janela. Apago o computador. Apago a luz. Apago tudo. Só não consigo apagar o som do ar, que persiste no escuro já depois de me ter escondido debaixo dos lençóis. Quero dormir e não posso os pulmões cheios a querem explodir pela boca e pelos olhos. A cama reclama do meu peso, tornei-me um homem pesado e este peso arrasta-me. Continuo a cair para baixo sem ter um par de mãos para me receber. A queda não acaba nunca a queda é infinita, vou caindo, caindo, caindo.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

MGMT - electric feel

Conheci-os à pouco tempo e tenho andado com isto no ouvido. Editaram um primeiro Ep em 2005 "time to pretend" música que abre também o primeiro álbum "oracular spetacular" (2008. o disco é muito bom, parece uma mistura incrível de rock pop funk com algum psicadelismo (como é possível constatar nos videos). enjoy

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Há dias em que lembro as tuas mãos a apertarem-me de encontro ao teu corpo no calor da tua segurança
sentia-me tão cansada
aconchegavas sem saberes as lágrimas que vertia por dentro, não percebo de onde vêm porque às vezes um sorriso, talvez das despedidas, sem dizer adeus com palavras,
- Adeus, até breve
somente nos olhos uma saudade futura
- até breve
até quando?
e a tua mão que me puxava cheia de certezas, a ignorar a minha mãe a emudecer um grito
- Adeus, até breve
que o estômago lhe enviava e ela lhe devolvia porque a minha mãe a engolir um grito ao ouvir aquela besta de ferro a apitar e a anunciar
- Adeus
eu um nó no estômago a calar-me, a tua mão a puxar-me para dentro do estômago da besta que ia engolindo outras pessoas, sem perceberes as lágrimas que não se vêem, tal como nunca percebeste quando eu abraçada aos meus joelhos, a dúvida de alguma vez tornar a vê-la
A pouco e pouco a terra a mover-se debaixo dos nossos pés sem que caminhássemos em direcção alguma, apenas o desconhecido como destino e ao fim de uns dias os dias todos iguais, as mesmas palavras os mesmos beijos, as tuas mãos a afogarem-me contra o teu corpo
os apitos da besta de ferro agora uma música aborrecida sempre com o mesmo tempo o mesmo compasso as mesmas notas repetidas, o estômago agora sem nós nem borboletas, vazio a protestar
- tenho fome
e eu vazia abraçada aos joelhos por não ter ninguém para abraçar a habituar-me às lágrimas que nunca percebeste e nunca aconchegaste, foram tão poucos os dias em que as tuas mãos me apertaram seguras e o comboio rasgava a paisagem sem interrupções, à janela a minha mãe a dizer coisas em silêncio, se calhar,
- Adeus até breve
às quais eu respondia com olhos brilhantes de saudade, a minha aldeia a encolher e depois a janela desfocada, a lembrar coisas que sinceramente preferia esquecer a respirar sozinha pela primeira vez enquanto embaciava o vidro e aconchegava no teu colo a minha mãe agora sozinha, o meu pai morto à que anos e os meus irmãos alguns que eu nem conheci na França à procura de melhor sorte a acenar em silêncio,
- Eu prometo que lhe escrevo mãezinha
assim como prometi a mim mesma que te escreveria e nunca escrevi, e eu a ver a aldeia encolher à medida que também a minha mãe encolhia e a tua mão me puxava
- Vou fazer de ti uma mulher feliz
a acreditar sem prometer nada de volta e tu a cobrares-me tal como ela
- Poque não dizes que me amas?
e eu a acreditar
- amo-te
sentia-me tão cansada
e a adormecer logo de seguida embalada pelo sono da viagem com a tua voz de fundo,
- vou fazer de ti uma mulher feliz
eu a querer acreditar mas indiferente à espera desesperada por uma estação onde pudesse
- vou comprar cigarros
e nunca mais tu ou a minha mãe e somente eu com as vossas lágrimas e à espera que outra besta qualquer me engolisse e me guardasse nas suas entranhas.
Há dias em que lembro aquele comboio em que fizémos uma viagem tão curta e desejo ter seguido viagem, mas sentia-me tão cansada.


Contextualização#06 ver www.luiselmau.blogspot.com

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Leituras (4)

"Peço desculpa a quem de direito por demorar dúzias de páginas a chegar ao final mas com tanta lembrança a ferver a cabeça escapa, oiço-a remexer episódios antigos a mudar pessoas e coisas de sítio e a repetir misérias que julgava esquecidas e afinal permanecem, o meu padrasto, a minha mãe, o doutor Sabino enquanto os tubos de borracha do estetoscópio sem repouso no tampo e continuarão sem repouso depois de me ir embora"

..."só Deus e eu neste limbo e qual de nós o mais incapaz de milagres, há anos que não gasto cera com Ele que nunca a gastou comigo"


in «O meu nome é Legião» António Lobo Antunes

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

The Raveonettes - Dead Sound

Dia 20 de Fevereiro no Santiago Alquimista. Eu já tenho meu Bilhete!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Hoje era dia de rosas para ti. Comprei-as encarnadas da cor do sangue quando escorre e carnudas, sei que gostas, a exalar um perfume que só podia ser teu, era teu. Comprei-as à dez anos. Como à dez anos tu a mim, de mãos dadas, me ofereceste rosas que ainda hoje vivem, não vivas, num jarro alojado no cimo de um móvel em casa dos meus pais. Olham-me dos seus corpos mortos como se ainda respirassem, o encarnado agora cor de carne morta, a insistirem exalar o teu cheiro. Hoje era dia de mãos dadas num passeio de autocarro até Lisboa. Era dia de beijos e abraços despreocupados com o fim do tempo, porque naquela altura o tempo não acabava e como ele nós também não.
Hoje é dia de um sms distante, não um telefonema, para te lembrares que não me esqueço de ti.
Assino-o com um beijo, ou antes beijinhos, e muitos anos de vida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Arcade Fire - Neon Bible (Elevator Version)

Sei que isto não será novidade para muita gente, mas gosto tanto que me apeteceu tê-lo aqui. enjoy this bible!

domingo, 20 de janeiro de 2008

Contigo queria

Contigo queria
a manhã a tarde e a noite
as ruas da cidade
os dias de sol e de chuva
a dança ondulante das ervas do campo
e as horas silenciosas da praia
(não silêncio, as ondas constantes)
Contigo queria
sorrisos e risos e lágrimas
o gosto da carne dos teus lábios
a demora de um abraço
e os dedos entrelaçados além das rugas que nos cobririão, se tu
Contigo queria
adormecer e acordar
(não silêncio, a chuva lá fora incessante ou as ondas)
viajar sem destino sem paragens
contigo queria o mundo.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Scanners - Lowlife

Esta é uma música que me foi mostrada à umas semanas, mas tenho-a ouvido com tanta insistência que hoje decidi colocá-la aqui. Os Scanners são londrinos e lançaram este single em 2006 tendo no Verão desse mesmo ano editado o álbum de estreia Violence is Golden, do qual também existe o video da música (muito boa por sinal) Raw. Ainda não consegui ouvir o disco todo, apenas mais duas música para além das mencionadas, mas acho que o melhor é não esperar pela edição nacional. Apreciem, eles são bons.

Hot Chip - Ready For The Floor

Ainda só vamos nos primeiros quinze dias de 2008 e já há um grande disco nos escaparates. Made in the dark, é o quarto disco dos hot chip, e este ready for the floor é o single de apresentação que se faz acompanhar de um video muito bom.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Leituras (3)

..."não fiz senão acumular passados sobre passados atrás das costas, multiplicá-los, aos passados, e se uma vida me parecia já demasiado cheia e ramificada e enredada para andar sempre com ela, imagine-se muitas vidas, cada uma com o seu passado e com os passados das outras vidas que continuam a ligar-se uns aos outros."

Italo Calvino in «Se numa noite de inverno um viajante»

Jorge Palma - Encosta-te a Mim

e porque não uma homenagem à música portuguesa? e quem melhor que o Jorge Palma? este é um homem, um músico, um escritor de canções, que admiro. à tua grande Jorge!