segunda-feira, 30 de julho de 2007

Presença constante

Trazem-te as ondas,
Traz-te o vento,
Ambos te trazem
Ao meu pensamento.

Traz-te o sol
E também a chuva
Na saudade, da tua
Mão na minha como uma luva.

São abraços e são beijos
Que trago na memória,
Que me fazem chorar por serem história,

Que me enchem por serem desejos.
A tua presença invade-me a todo o momento
E escrevo estas palavras no silêncio d’um lamento.

14/06/07
Na minha mão está uma faca
Que não sabe como
Veio aqui parar.
Mas eu sim. Sei
Que é p’la vontade,
Devido ao desespero e infelicidade,
Que tenho de a cravar.

Não avança nem recua
Sem a minha autorização
E contemplo-a, fria e nua,
Enquanto reflecte a vida crua
Ao mesmo tempo que a cobardia actua
Sobre a faca que está na minha mão.

5/6/07

Maravilhoso Funeral!( um Requiem contemporâneo)

Já muitos compositores, escreveram trabalhos dirigidos aos finados, no entanto, e apesar da genialidade de algumas destas obras, o texto limita-se à pobreza religiosa, em que o sentimento latente e manifesto à perda de alguém querido, está esquecido e parece não surgir implicado. Ao ouvirmos Funeral, álbum de estreia dos The Arcade Fire, podemos dizer que estamos perante uma mudança de paradigma no que respeita à forma do Requiem. Assim, da primeira à última música, somos conduzidos por um mundo complexo e variado, onde os instrumentos conversam entre si num diálogo íntimo de quem se conhece, e a cada palavra deitada para fora, uma nova ideia, uma nova vida nasce. Entramos por Tunnels que nos transportam a quartos que nos habituámos a ver com vida, cheios agora pelo marulhar da água, jorrada pelas cordas de um piano que chora, e aqui, “esquecemos tudo o que conhecíamos”. Ao longo do disco, acentua-se a procura de alguém que já não é, que já não está, e somos então convidados a amar as pessoas de quem gostamos enquanto é tempo, pois a partir de um fim, o mundo deixa de ser como sempre o conhecemos, e é substituído por lugar estranho e sombrio. No entanto, a escuridão deste novo mundo, contrasta com a força e energia que pautam este Funeral, que arranca à amargura da vida arrancada – por vezes em tonalidades melancólicas delineadas sobretudo pelos arranjos das cordas e das vozes – um desejo de viver para sentir todas as coisas. A intimidade deste álbum tem o cheiro de uma almofada partilhada, vazia após uma noite de sono, e o conforto de sabermos que apesar de tudo a vida continua.
Em Rebellion (Lies), o corpo salta até à exaustão, sem conseguir parar, numa dança catártica, frenética e apoteótica, para depois sermos levados “na paz do banco de trás”, onde apenas temos de permanecer, sem fazer, sem falar, e podemos então mergulhar no silêncio do melhor disco de 2005.
Funeral, está imerso num ambiente de emoções fortes, que se reprimem e atraem, joga-se entre a vida e a morte, entre a separação e o casamento. A sonoridade surpreende a cada segundo e denota a criatividade e maturidade de quem, num álbum de estreia, revela a consistência dos mais experientes e roadados compositores da pop, como aliás de imediato foi reconhecido por bandas como os U2, que abrem concertos com a guitarra distorcida e quebrada de Wake Up, e por génios como Bowie que quis participar no crescimento deste futuro e se juntou aos The Arcade Fire para com eles cantar, e talvez para recordar o que é nascer dentro da música como no início da sua próspera carreira.
Este é um Requiem que não promete o “descanso eterno”, mas sim a continuidade da vida, de uma banda que se revelou uma das melhores da última década. Assim este Funeral não é um fim, mas antes um nascimento, se eu fosse músico, gostava de ter feito este disco!

14/02/06

O meu porto

Invade a minha cama com o teu corpo
Esse mundo que me abraça, que é meu porto
Cujos caminhos e trilhos
Se encontram no gosto amargo dos mirtilhos.

Não acendas a luz, que apaga a minha solidão
Que outra forma não conheço para além da escuridão.
Porque eu, quero que venhas e depois te vás
Pois apenas sozinho encontro alguma paz

Por isso não te ofendas se a minha Tristeza
Não te estender aos pés o vermelho manto,
Pois a companhia das pessoas Ela despreza

E, tal como toda a alma que se acalma na reza,
Ela encontra-se no profundo conforto do pranto.
O meu porto á a ilusão do teu abraço.

5/07

minute maid

12:54
A estranhesa apodera-se de mim num lugar familiar. Sinto-o como novo apesar do cheiro igual ao de todos os dias... deve ser do tempo.
12:55

16:50
Cercado por quatro paredes, está o meu desejo de te sentir.
Entrego-me à melancolia da chuva que parou lá fora.
Entrego-me ao entediante trabalho de pensar, só para poder não pensar no quanto gostava que aqui estivesses.
No silêncio vives, na ausência existes e é aqui que te amo...
Ah! Não há dia em que não me apeteça chorar-te.
16:57

8/3/05

Escrever, hoje

Escrever, hoje, é como desferir a cada palavra; a estocada final que nada finaliza, o golpe que não chega a ser de misericórdia porque apenas abre a ferida alastrando-a para além da dimensão do corpo…
Hoje as letras estranham-se umas às outras e repelem-se, afirmando a recusa da associação e desprezando a estabilidade do sentido.

8/3/06

Amanhecer (longe de ti)

Ouço-te raiar por entre as gotas do meu pranto,
Adivinho-te na luz que incendeia este meu canto.
Rompes p’la cidade
Que ainda está adormecida,
Num copo, (ab)sinto,
Esperança da minha saída.
O terror do pesadelo ameaça a minha porta,
O meu corpo tento erguê-lo de uma vida mais que morta.
Na minha cama gelada, jaz vazio e infeliz,
O desencanto da mágoa de
Amanhecer longe de ti.
A ausência do teu corpo
Invade-me como uma fome,
Com o romper de um novo dia,
Enquanto a noite dorme.

13/07/06