quinta-feira, 24 de julho de 2008

Leituras (7)

"que no hay sometimiento más eficaz ni más duradero que el que se edifica sobre lo que es fingido, o aún es más, sobre lo que nunca ha existido."

"Sólo hay una cosa mas solitaria que morirse sin que se entere nadie, y es morirse sin enterarse uno mismo de lo que está ocurriendo, sin que el que muere se entere de su propria disolución y término..."

Javier Marías in «El hombre sentimental»

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Solidário :)

Esta é a segunda edição de uma parceria, entre a FNAC e a Fundação AMI, que procura combater a Infoexclusão através da construcção de Infotecas nos Centros Porta Amiga. Estas estruturas têm possibilitado, àqueles que se encontram em situação de maior precariedade socio-económica, a aprendizagem e contacto com as novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Assim, a compra deste cd duplo, pela simbólica quantia de 4 euros, ajuda na democratização do acesso aos meios de informação e por outro lado promove os novos e emergentes talentos da música portuguesa, que pelos vistos são alguns. O meu destaque vai para "Os pontos negros" que acho incrível ainda não terem um álbum (são mesmo bons!). Ao longo de trinta músicas encontram-se ainda outras bandas e compositores interessantes como " Vicente Palma", "Os Tornados", "Projecto Fuga", "Crista", "LAma".
Um bom disco por uma boa causa!

Leonard Cohen - Tower of Song 19-07-2008

Sábado tive a oportunidade de assistir a um dos melhores concertos que já vi, que pensando bem já são alguns. Foi uma noite extasiante pela figura, pela voz, pelos músicos, pela música, pelo humor, pela entrega ao espectáculo(3 horas não é para todos)e pelo silêncio... Não me lembro de estar num concerto ao ar livre em que ouvisse, por entre os espaços da música, um silêncio de respiração. Foi um concerto arrebatador, desses que vou recordar durante os anos que a vida me permitir... Aqui fica um momento que exemplifica o que aconteceu essa noite. Se não se gastasse tanto dinheiro em festivais talvez houvessem/assistissem a mais concertos a sério.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Radiohead - House of Cards

Não é novidade que os Radiohead são a minha banda preferida desde há alguns anos. O "In Rainbows" está para mim entre os três melhores discos deles (ou quatro vá) e elegi o "House of cards" como a melhor música de 2007. Dado tudo isto, mal vi este video nos favoritos do elmau fui logo «surripiá-lo» e tinha que o pôr aqui.É lindo, há génio em tudo o que estes rapazes Tocam.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

"Joy Division" - Trailer

Foi ontem a ante-estreia e aconselho vivamente a todos, aos que não conhecem e aos que conhecem os Joy Division.
Vão ver, depois falamos...

Profissão Errada

Conheci a S. numa típica noite de copos e nunca mais a vi. A noite estava boa eram dias quentes de um Inverno, gosto de quando o Inverno é quente, desocupado e sem dinheiro daí não sair há tanto tempo. Essa noite o jantar foi servido em casa e deglutido entre palavras saudosas de amigos que eram mastigadas a gosto em crescendo ensopadas num vinho tinto que alguém eloquentemente escolhera. A conversa estendeu-se algumas cervejas mais pelos bares do Bairro Alto e descemos até ao buraco. À chegada o vinho já me dançava – de outro modo nem uma palavra – e os cigarros seguiam-se uns aos outros entre os dedos numa nuvem de incêndio em que conheci S.
- Tens um cigarro?
e eu claro que tinha cigarros e fósforos e isqueiro, se ela preferisse, e muitas palavras para lhe dar, uma vez que tinha usado vinho para as empurrar ao jantar e as tinha prontas a sair cá para fora, e uma vontade incrível de lhe trincar os lábios que me preenchiam o olhar desfocado, ou parcialmente focado, e de lhe beijar os olhos negros onde me perdia em elipses que me traziam invariavelmente ao mesmo lugar àquela pista de acasalamento. E dançámos, ou melhor o meu vinho dançou com ela uma vez que eu não sei dançar, e ela aparentemente conhecia-me de um teatro onde eu não trabalhava e ela a insistir
- Não és assistente de produção no Teatro Nacional?
e eu a querer ser o que ela quisesse que eu fosse a anular-me e a querer apenas concordar e que ela concordasse em dar-me o número de telefone que era para lhe ligar mais tarde durante a semana quando o vinho tivesse ido embora e os meus olhos pudessem já focar a pele negra-dourada e o sorriso branco que lhe irrompia dos lábios que eu queria morder e a perfeição do movimento dançante do seu corpo e os músculos desenhados dos braços que eu queria à minha volta, mas apenas consegui dizer,
- Não. Vendo telemóveis
sem conseguir que ela me desse o seu número para falar com ela através da minha mão, e a ficar desesperançado com aquela conversa do trabalho e do teatro, eu que entrei num teatro uma ou duas vezes uma por ter feito confusão com a porta do metro outra para ver um tipo que conta piadas, gostei de ir teatro foi giro ri-me à brava com aquele actor que pelos vistos, e apesar de ser actriz, ela não conhecia. Às vezes impressiona-me a falta de cultura que alguns artistas têm como se só tivessem espaço para o seu próprio trabalho, e eu não conhecia o dela mas eu não sou artista, falou-me em duas peças que tinha feito recentemente o «não sei quê improviso» do Pirandello, decorei porque tem um nome fixe o que eu me ri Pirandello, que era basicamente o que eu estava a fazer há horas a improvisar e outra de um estrangeiro com um nome esquisito. Eu tentei dançar mas tropecei-lhe num pé e acordei na rua vazia a apanhar ar ao lado do vinho e do jantar.
Conheci-a nessa noite e nunca mais a vi. Bem falava para a mão mas do outro lado nunca S. ainda lhe tentei vender um dos meus telemóveis podia não ter um e ser essa a razão de não me dar o seu número, e eu faria uma atenção especial no preço por ser para ela, mas recusou. Procurei em cartazes de vários teatros da cidade mas S. não vinha nas primeiras páginas como o Humberto Graça, aquele actor que vi no teatro e faz rir. O Pirandello, que fartote, deve ter-se pirado porque o seu nome também não figurava em parte alguma se calhar piraram-se juntos. E eu acho que percebo que não te tenhas pirado comigo porque
- Não. Vendo telemóveis
e não assistente de produção como tu achavas e talvez te desse algum jeito mas se me tivesses dado o teu número eu agora podia chamar-te a dizer que deixei os telemóveis e trabalho na bilheteira e que te ofereço todos os bilhetes que queiras e podes trazer o Pirandello se quiseres porque eu quero estar contigo como tu és.
Todas as noites a procuro entre o público e o palco, mas nunca mais a vi.