quarta-feira, 2 de novembro de 2011

«É o Bairro Alto de lá!»

Todos nós temos pontos de referência que nos ajudam a situar, num contexto diferente, face à nossa realidade. São portanto comuns as comparações com as coisas que conhecemos. Exemplos disso, são frequentes quando relatamos a alguém uma experiência ou um lugar num outro país. Quando vou viajar e procuro saber um pouco mais sobre o destino a que me dirijo estes episódios são recorrentes, sobretudo quando alguém procura aconselhar-me um sítio para ir sair à noite, beber um copo ou simplesmente para passear. A frase que mais oiço é
«É o Bairro Alto de lá!»
como se de uma instituição se tratasse
«- Aqui à direita é a Câmara Municipal, ali a Assembleia e mais à frente o Bairro Alto…»
Recentemente, aconteceu-me em Paris onde me apresentaram Montmartre, graças à sua localização num ponto mais alto da cidade, aos artistas e bares que aí se localizam, como sendo o Bairro Alto lá do sítio. Em Madrid, este seria o bairro de Chueca ou ainda a zona de Malassaña. Em Viena seria a Mariahilferstrasser e o Neubaugasse os mais semelhantes, devido aos restaurantes, bares e galerias de arte aí existentes. Apesar de ter gostado muito de todos os locais enumerados (e de perceber as comparações), não encontrei o Bairro Alto em nenhum destes sítios. E ainda bem! No mundo globalizado, da uniformização e da embalagem, é normal encontrarmos lojas, marcas e supermercados iguais em qualquer país e exclamarmos com uma surpresa saloia
«-Olha, isto também há lá!»
mas nunca me aconteceu dobrar uma esquina e encontrar o Bairro Alto. Felizmente este ainda não é “frenchisável” o que lhe permite manter-se único e diferente de tudo o resto, e conservar a sua identidade local, tanto das características geográficas como das gentes que lhe dão a sua vida própria. Assim, o Bairro Alto de lá não existe para além do Bairro Alto de cá, o nosso. E se o quiserem conhecer só poderá ser em Lisboa!

#2 texto publicado em www.ilovebairroalto.com
Lisboa, 27 de Dezembro de 2010

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